Texto de *Aldo Novak *
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O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos. Se
alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma
mobília, sem portas ou janelas, sem relógio... você começará a perder a
noção do tempo.
Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo /sentindo as
reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos
de sono, fome, sede e pressão sanguínea. /Então... quando tempo
suficiente houver passado, você perderá completamente a noção das horas,
dos dias... ou anos. Estou exagerando para efeito didático, mas em
essência é o que ocorreria.
Isso acontece porque *nossa noção de passagem do tempo deriva do
movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de
eventos cíclicos,* como o nascer e o pôr do sol. Se alguém tirar estes
sinais sensoriais da nossa vida, simplesmente perdemos a noção da
passagem do tempo.
Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar:
nosso cérebro é extremamente otimizado. *Ele evita fazer duas vezes o
mesmo trabalho*. Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por
dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar
conscientemente tal quantidade de pensamentos. Por isso, *a maior parte
destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do
dia*. Para que não fiquemos loucos, */o cérebro faz parecer que nós não
vimos não sentimos e não vivenciamos aqueles pensamentos automáticos,
repetidos, iguais/*.
Por isso, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica
muitos recursos para compreender o que está acontecendo. É quando você
se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele
vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e "apagando"
as experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que
o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os natais chegam
cada vez mais rapidamente.
Quando começamos a dirigir, tudo parece muito complicado, o câmbio, os
espelhos, os outros veículos... nossa atenção parece ser requisitada ao
máximo. Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os
semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular (proibido no
Brasil), ao mesmo tempo. E você usa apenas uma pequena "área" da atenção
para isso.
Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas
(você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O
cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas
experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a
experiência). Em outras palavras, v/ocê não vivenciou aquela
experiência, pelo menos para a mente. /Aqueles críticos segundos de
troca de marcha, leitura de placa... *são apagados de sua noção de
passagem do tempo*... Porque estou explicando isso? Que relação tem isso
com a aparente aceleração do tempo? Tudo.
A primeira vez que isso me ocorreu foi quando passei três meses nas
florestas de New Hampshire, Estados Unidos, morando em uma cabana. Era
tudo tão diferente, as pessoas, a paisagem, a língua, que eu tinha dores
de cabeça sempre que viajava em uma estrada, /porque meu cérebro ficava
lendo todas as placas/ (eu lia /mesmo/, pois era tudo novidade, para
mim). Foram somente três meses, mas ao final do segundo mês eu já me
sentia como se estivesse há um ano longe do Brasil. Foi quando comecei a
pesquisar a razão dessa diferença de percepção.
Bastou eu voltar ao Brasil e o tempo voltou a "acelerar". Pelo menos,
assim parecia.
Veja, quando você começa a repetir algo exatamente igual, *a mente apaga
a experiência repetida.* Conforme envelhecemos, as coisas começam a se
repetir -- /as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de
televisão, reclamações.../ enfim... as experiências novas (aquelas que
fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça
ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo. Até que tanta
coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na
semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.
Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a..*.
r-o-t-i-n-a*.
Não me entenda mal. *A rotina é essencial para a vida e otimiza muita
coisa*, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da
vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos
os anos.
*O ANTÍDOTO PARA A ACELERAÇÃO DO TEMPO: "M &M"*
Felizmente há um antídoto: *Mude e Marque*. /Mude/, fazendo algo
diferente e /marque/, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos.
Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias
sempre e, preferencialmente, /para um lugar quente, um ano, e frio no
seguinte/) e /marque com fotos, cartões postais e cartas/. Tenha filhos
(eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles,
e para você (/marcando/ o evento e diferenciando o dia);
Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de
momentos usuais. Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso
ou daquilo, bota-foras, participe da formatura de sua turma, visite
parentes distantes, vá a uma final de campeonato, entre na universidade
com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre
enfeites diferentes no natal, ou faça os enfeites com frutas da região e
a participação das crianças, vá a shows, cozinhe uma receita nova,
tirada de um livro novo.
Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor -- faça
diferente. Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos
diferentes. Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque
experiências diferentes. /Seja diferente/.
Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com
seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras
culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos... em
outras palavras... *v-i-v-a*.
Porque se você viver intensamente as diferenças, /o tempo vai parecer
mais longo./ E se tiver a sorte de estar casado (a) com alguém disposto
(a) a viver e buscar coisas diferentes, seu livro da vida será muito
mais longo, muito mais interessante e muito mais... vivo.... do que a
maioria dos livros da vida que existem por ai.
Se você não tiver mais a esposa, ou o marido, cerque-se de amigos.
Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com
religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes. Enfim, acho que
você já entendeu o recado, não é?
Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade,
emoção, rituais e vida.
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