terça-feira, março 11, 2008

mini-caixotim

Um velho entra num café, mudo, sombrio e desconfortável com a sua imagem. Não a que transmitia, mas a sua própria, a que se lhe aparecia em cada reflexo, em cada movimento. Quando olha para o televisor, exclama para si mesmo:

- Que raio de mundo este, já não dá para compreender nada do que se passa!

Mas esta frase, não era para o mundo que comentavam as notícias, aproveitava-se ele para exprimir a sua tristeza por ter perdido a noção de tudo o que se passava ao seu lado. Sentia que a sua alegria tinha fugido para longe, para lá das montanhas que perfilavam o horizontal visível em redor. No entanto era um grito de dor interior que só ele compreendia. Ele sabia que não tinha desistido de a procurar, mas sentia-a cada vez tão longe como antes.

A vida tinha passado, os seus objectivos principais tinham sido alcançados, mas quando olhava para trás, pensava se realmente valeria a pena o esforço. Ele sabia o que tinha custado chegar onde chegou, havia-lhe custado grande parte da sua graça. Era hoje um homem mais triste, não se achava velho, mas mais triste. Triste, irritadiço, intransigente e ele sabia-o ser assim. Desfiava-se de cada vez que se sentia assim, tornava-se menos paciente consigo e não saia desse jogo infinito de raiva.

O cheiro de um cigarro, acorda-o de novo para a realidade do café, a ventilação incipiente do local, tão forte como a de um quarto de banho de sua casa, fazem-no acreditar na ciência humana para resolver todos os problemas da humanidade.  Retoma o seu dia, saboreia um café e sai porta fora, mais leve, menos absorto, deixando para trás um momentâneo lapso de razão da sua existência...

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