terça-feira, agosto 07, 2007

Conto "Espece"

Por dias, existem momentos em que digo a mim mesmo, que deveria escrever qualquer coisa... aliás por isso criei o blog, para partilhar as minhas ideias com os outros, o título, descreve bem aquilo que pretende, é mesmo partilhar as coisas que ficam cá dentro e que não partilho com os outros ou por serem demasiado estúpidas, ou demasiado disparatadas, não fazem sentido serem ditas que não na blogosfera. Mas hoje superei-me, adiantei-me aos meus medos e pessimismos e tentei escrever um pseudo-conto, totalmente surreal e fora de qualquer contexto que possam imaginar...

O nome, vem de uma curta conversa com o Índio, acercas de coisas que fazem "espece" (ai esse termo tão sulista que adoro)...

Espero que gostem, eu posso afirmar que não gosto, como sempre quero algo mais, caio no erro de procurar algo mais perfeito e acabo por não me contentar com o que tenho, mas vou-me habituando a essa ideia.

Aqui fica:


Liguei-te…

Mas não me atendeste, ainda bem.

Durante os momentos em que o telefone do outro lado tocava, fazia filmes na minha cabeça para saber por ventura o que te poderia querer dizer, e porque motivo te ligava. Aparentemente, não havia nada a dizer, um "Olá!" seguido de uma conversa banal, não seriam nada aparentemente surreal, mas estava nervoso com o telefonema, porque não responder à pergunta colocada por mim mesmo sobre a sua origem.

Provavelmente descobriria que preferiria ficar calado e ouvir-te falar de todas as tuas teorias e ideias feitas da sociedade e de tudo quanto nos rodeia. Mas não, tu não me atendeste a chamada e fiquei bem, contente, porque o desassossego passou e nem sequer tinha perdido nada, pois nem tinha nada de importante a dizer, apenas tinha algo importante a ouvir.

Segui a minha viagem de maneira tranquila com uma sensação de que continuava a ter tanto para te dizer, sem nada me dizer que sim que era isso que eu queria. Provavelmente as coisas iriam fluir quando começasses a falar e eu iria falar e falar contigo durante minutos sem fim, se não houvesse nada que interrompesse a nossa conversa. Aparentemente, a simples ideia de te ligar por ligar não faria sentido na minha cabeça, mas naquele momento, precisava de te ouvir e de confirmar que estarias ali ao meu lado no éter de uma chamada, e que irias ficar tão entusiasmada com a chamada como eu…

Pensava em ir para um cantinho isolado, falar contigo sem ser descoberto, falar longamente como quem passeia à beira-mar, num rasgo de sol, no meio de uma tormenta, mas não, continuei no meu local de sempre a contar os segundos que faltavam para sair e ter uma desculpa para te ligar novamente…

Estava perdido nos meus pensamentos quando o telefone toca, atendo e dizes-me "Olá amor…" fico sem palavras, e esqueço tudo…


E para acompanhar o conto, fiquem com um vídezito...



Até já...

2 comentários:

Pinkiah disse...

Além do conto, acho o video com uma ternura quase a roçar o cósmico... tão diferente da realidade que vejo todos os dias... parece que a vida é perfeita...
Obrigada pela perspectiva, salvou o meu dia ;)

Índio Gordo disse...

Comentários a coisas soltas (ou não):

Quando vais no carro e tens tanto para dizer a alguém que quando dás por ti estás a falar sozinho parado no trânsito e a gesticular... e quando te apercebes que estás a ser observado levas a mão ao auricular do telemóvel para que não pensem que és doido varrido?!

Quando tens tanto a falar com uma pessoa que sabes que o tempo não chega e acabas por ficar calado, a disfrutar apenas da sua presença, porque no fundo, se calhar, não vale a pena falar...

Quando para todas as angústias e desatinos, do dia a dia e não só, há uma pessoa que tem um toque ou uma palavra que é o "Olá amor" que nos faz esquecer tudo...

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